Você não consegue mudar aquilo que você não aceitou
- Letícia Lopes
- 5 de jan. de 2024
- 1 min de leitura
Na esperança de acertar onde queremos chegar, e o que queremos ser, começamos a brincar de ser diferente. Brincar de ser outro.
Brincamos de criar rotinas organizadas, a fim de nos tornarmos pessoas mais organizadas. Programamos o despertador mais cedo para termos mais tempo no dia. Seguimos páginas que nos exemplificam como é o viver bem. Como é a prática de quem vive “plenamente”.
O faz de conta na vida adulta é um pouco diferente. No lugar de princesas e super-heróis, nos é apresentado diariamente fórmulas mágicas para o desenvolvimento pessoal.
Aprendemos que uma rotina estável é o mais próximo de uma garantia de vida ordenada que podemos conseguir, e que não devemos dar espaço para o que surge, porque nos ocupa demais.
Com o tempo introjetamos que o que vem espontâneo da gente é não é bom, e não deve ser aceito. Até que em certo ponto, de tanto organizar, planejar e controlar, o nosso espontâneo vira um desconhecido.
Esse espontâneo que busca viver conforme sente. Que se conecta com as nossas necessidades e desejos, que permite que a desordem tenha significado. Desacostumamos a ouvir o nosso corpo, e a respondê-lo como ele precisa, afinal o outro sabe mais de nós do que nós mesmos.
Não aceitamos mais isso como nosso. E assim vamos nos perdendo nesse faz de conta.
Mudar efetivamente é integrar o self. É reconhecer a nossa trajetória, nossos vividos e seus significados, o papel que temos ocupado. Para mudar é preciso acolher quem se é, que o que temos construído foi o melhor possível por aquilo que foi passado.
Afinal, como ir para o novo, se não me permito dar lugar para o que transborda aqui?
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